Prémio Portugal Telecom da Literatura para valter hugo mãe

valter hugo mãe vence Prémio Portugal Telecom da Literatura

“A Máquina de Fazer Espanhóis”, de valter hugo mãe, foi o romance escolhido para ser premiado com o Prémio Portugal Telecom da Literatura – 10º edição. O escritor de Vila do Conde volta assim a ser  galardoado depois de ter recebido, em 1997, o prémio Almeida Garret e, em 2007, o prémio José Saramago.
Para além da categoria de romance, a 10ºedição  premiou na categoria de poesia a obra “Junco”, de Nuno Ramo – vencedor do Prémio Portugal Telecom 2009 -, e na categoria de conto o vencedor foi o escritor brasileiro Dalton Trevisan – vencedor  do prémio Camões 2012 e do Prémio Portugal Telecom em 2003 e 2007 – com o livro de contos “O Anão e a Ninfeta”.

Philip Roth não escreve mais

Aos 79 anos, o escritor Norte-Americano, Philip Roth, colocou um fim à sua carreira literária. A notícia foi dada à agência Reuters pela editora do escritor, Houghton Mifflin.

Leu todos os seus livros e escreveu obras que tiveram sucesso em todo o mundo. Philip Roth recebeu, entre outros, o Prémio Pulitzer, em 1997, com o livro “Pastoral Americana”.

Mauricio Branda Lacerda

Sou,
do fogo eterno
que me queima
eterna chama.
Do negrume deste mundo
negra mancha.

Regina Cezar – Mar de Rosas

 

Pode dizer o que quiser

(até rir na minha cara)

Insisto, o jogo não vale

Sempre, um perde, ele acaba…

 

Se não há nada de novo

Não jogo mais esse jogo

Que de ausências bem entendo

Como todo poeta…

 

Funciono melhor assim

Nenhum arrependimento

Da rotina ou do esquecimento

Não espero quem me salve…

 

Da noite transformo as brumas

As dores de que me abstenho

Que de dores bem entendo   

Como todo poeta…

 

De resto, não venha com lero-lero

Viajando no amor perfeito

Tão falso quanto um “mar de rosas”

Tão difícil quanto rir do próprio tédio…

 

Cátia Penalva

Chhhh…
Fechas os teus olhos com os meus
congela este instante
esquece o doravante.
Sente os meus dedos, sente.
Toca na minha pele
tens um toque de mel
encosta o teu quente ao meu quente
Juntos: ardente.

Catarina Dinis Ramos

Diz-me que o teu olhar não se modificou

Que o tempo recuou

O suficiente

Para ainda dormir em teu corpo

Diz-me que o lugar vazio de hoje

Está ocupado

Nem que por sombras do ontem

Quero escutar essa voz

Quando chegavas junto de mim

Recorda-me como é ser feliz

Porque esqueci-me

Do seu significado

 

*

 

Sinto o teu amor

Cair em mim

Como mil folhas avermelhadas do outono

Como gotas de água

Brilhando e iluminando

Toda a velha estrada.

Fecho os olhos

E chego a ti sem ver os teus passos

Adivinho o teu rumo

Entre as inúmeras estrelas

Que vestem o nosso céu.

 

 

 

 

Luís Abreu

um plano inclinado sensações sabores ajoelhados

sinusóides de emoções hipérboles excessos abusos

ângulos a tender para o infinito e teoremas obtusos

movimentos de corpos fricções e sonhos mareados

 

ondas opostos de costas elipses poemas de mel

curvas sórdidas rectas obscenas delírios medidos

altiva dependência do desejo delíquio dos sentidos

a inércia que se segue um mas tem que ser camel

 

funções três dimensões eixos gráficos hipnóticos

de regresso aos limites axiomas doces derivadas

integrar as mãos os lábios e os olhos neuróticos

 

a correlação o comprimento palavras e coordenadas

um sorriso e os valores esperados nos deltas eróticos

o inverso e o simétrico também verdades imaculadas.

 

***************

 

 

Hoje, saí demasiado tarde do trabalho

(já não me lembro porque lá fiquei tanto tempo).

Na companhia de uma primeira cerveja, olho a noite

(o fogo respira as entranhas da cidade,

dois cães disputam entre si os últimos restos,

dois restos verbalizam ódios no último semáforo livre)

e viajo para o único sítio onde a poesia me acontece,

para o abismo absurdo, para onde mora o medo de cimento

de um dia descobrir que já não sei quem sou.

Peço uma segunda cerveja. Lá fora, a noite, fria,

(cá dentro, o aquecimento e os olhares de mulheres desconhecidas,

o chilrear dos copos e a simpatia fingida a fumar por trás do balcão)

prossegue rapidamente sem mim, mas ninguém se importa.

Volto a mergulhar no sangue e no meu sangue.

Para que me convençam que sou o que digo ser,

faço das palavras minhas escravas, chicoteio-as,

obrigo-as a dizerem apenas o que quero ouvir.

Um dia, sei-o, serão elas a verga de salgueiro

que outros usarão para me rasgar a pele,

enquanto me perguntam: valeu a pena mentires-te?

(Mas, entretanto, gosto desta mesa de madeira mal encerada

e de observar os semáforos pela janela meio embaciada.)

Quando aqui venho, nunca estou sozinho,

há sempre um ou outro cadáver existencialista,

a lembrar-me que agora os valores são outros

e que estou completamente fora de moda.

Mas eu não quero estar na moda, quero apenas compreender(-me).

É isso que não deves fazer, procurar respostas era para o meu tempo.

Mas tu estás morto, eu estou aqui e sufoco(-me).

(Excita-me esta mulher que, de costas para mim,

espreita por cima do ombro, enquanto afasta o cabelo de ouro,

num gesto demasiado lento para ser verdadeiro.)

Lelia Maria Romero – Corcoroada Para Frida Kahlo

Não há cor sem você

nem dor sem seu nome.

Marimbondos ferram os cavalos

montados nas suas linhas, nuas

cores enforcadas respiram o éter da terra

desovam tons nas alamedas

e pinceladas rendidas se deitam

na trama dos nós desfeitos.

Olhos saltam do abismo, aqui

sonham seus brincos de alelhi

com aroma pimenta das entranhas:

a paleta emudece

quando a espátula fere a tela.

 Ardor nos dias de sol

e na obra, flor

a cor segura a coluna

afina a voz, calor.

Cor coroada arada a ferro, iluminada

explode, concentra, permanece

e morre para nunca mais voltar.

Enquanto morro – Luiza Sargionatto

Não entendo o medo que as pessoas tem da morte, ou melhor AGORA não entendo o medo que as pessoas tem da morte.
Se elas soubessem o alívio que a morte trás as nossas dores ficariam desejando morrer.
Mas por outro lado não ad

 iantaria de nada aliviar as dores físicas e acabar ficando com um buraco enorme no peito. Foi isso o que aconteceu comigo.
Eu sentia dores terríveis na cabeça. A ponto de desmaiar. Mas tarde soube que se tratava de um tumor no cérebro impussivel de ser operado. Os seis meses que se seguiram foram ao mesmo tempo horríveis e maravilhosos.
Horríveis porque frequentemente tinha de ir ao hospital e maravilhosos porque Oliver estava ao meu lado.
Quando descobri que iria morrer fiquei revoltada. Sai correndo e fui parar em um parque um pouco longe da minha casa.
Quis gritar aos ventos que era injusto. Poxa eu tinha dezessete anos. Tinha planos, um futuro e quando menos esperava descobri que nada disso se realizaria.
O que mais me incomodava era saber o que tinha além da morte. Então era isso quando eu menos esperasse fecharia os olhos pela última vez?
Fiquei caminhando sem rumo por um bom tempo. E em meio a um turbilhão de emoções decidi que ninguém saberia da minha condição. Também decidi lutar por um amor de infância e viver intensamente meus últimos momentos…

Mateus Novaes in “Desistência”

todo ódio é tardio
é preciso matar antes
não há angústia nos móveis da minha sala
nem nos alfaces mofando na geladeira
prefiro que pulse
mesmo que doa
arrombe estupre decrete perverta
ignoro coisas surgidas do nada
ouvir lou reed encanta
meu lado manso e grotesco
juntos
não gosto de onde moro
mesmo multiplicado
mil vezes afora
um detalhe digital
adia a confusão do reflexo
o jeito de levar o copo a boca
compõe a matéria opaca
frágil que se é
prestes a quebrar descobrir
o vermelho que nos faz semelhantes
não siameses

controla meus batimentos
cardíacos
com os lábios
a doçura
do corpo elimina
toda possibilidade
de fábrica ou
qualquer coisa
grande e tola
que insista contra
o mérito
de desistir